terça-feira, 30 de agosto de 2011

Cidadão , Zé Ramalho .

Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas prá ir, duas prá voltar
Hoje depois dele pronto
Olho prá cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
"Tu tá aí admirado?
Ou tá querendo roubar?"
Meu domingo tá perdido
Vou prá casa entristecido
Dá vontade de beber
E prá aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer...

Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem prá mim toda contente
"Pai vou me matricular"
Mas me diz um cidadão:
"Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar"
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer...

Tá vendo aquela igreja moço
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
"Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar"

Hié! Hié! Hié! Hié!
Hié! Oh! Oh! Oh!












domingo, 28 de agosto de 2011

Êxodo favorável

Cidadãos deixam regiões do Nordeste em busca de melhorias
Muitas regiões do Nordeste são desfavorecidas. O índice de pobreza é alto, a seca é elevada em alguns lugares e há escassez na oportunidade de emprego para muitos habitantes. Por causa destes e de outros motivos, nordestinos se deslocam cada vez mais para outros estados, em busca de melhorias.

Em uma obra localizada na região do bairro Planalto, Belo Horizonte, nos deparamos com dois funcionários da Construtora Plana, que vieram de outros estados: o mestre de obras Maicon Robson Alvez de Sousa, 30, de Lajedo, Pernambuco; e o pedreiro João Batista de Araújo, 43, de Parelhas, Rio Grande do Norte. Ambos mudaram de cidade pelos mesmos motivos: falta de emprego e baixos salários na terra natal. Aqui, eles trabalham no canteiro de obras, estão realizados com a profissão que exercem e satisfeitos com o salário que recebem, podendo assim garantir o seu sustento.

Ficar longe de casa e da família são os maiores desafios enfrentados por Maicon e João. Mas eles garantem com tranquilidade que tiveram o apoio dos familiares, e que a maior dificuldade que encontraram aqui foi se adaptar à cultura mineira: “Aos poucos a gente vai se adaptando.” diz o mestre de obras. João complementa: “Aqui, a dificuldade é se adaptar, tudo é diferente, a alimentação, tudo.”


Maicon está há mais tempo na capital mineira. Ele vive aqui há dezoito anos, enquanto João chegou há um ano apenas. O pedreiro recebeu o convite de Maicon, que, por sua vez, já estava aqui com seus pais. Ele confirma que a migração das pessoas pelos estados, na maioria das vezes, ocorre por convite. Ou seja, um indivíduo que deixa sua terra natal e está trabalhando há mais tempo em outro local, convida seus amigos e familiares, desde que haja emprego, para que estes possam vir também, assim ficam mais próximos e a probabilidade de vida estabilizada aumenta.

Maicon começou como ajudante, depois tornou-se oficial encarregado e atualmente é mestre de obras. Tudo isso é um orgulho para ele, e a obra que mais lhe marcou foi a que fez cinco anos atrás, quando foi promovido. Ele e João ficam emocionados quando terminam o trabalho. “Eu me considero um artista. (...) Se não é a gente para fazer, o país não cresce, o mundo não cresce.”, diz Maicon. “A gente se sente bem, porque todo mundo gosta”, expressa João.



Os dois amigos não sofrem preconceito pela profissão exercida. João declara que antigamente a profissão era bem mais desvalorizada que antigamente, mas para Maicon, o trabalho ainda não recebe o devido valor no país.

O mestre de obras, entretanto, está realizado morando em Belo Horizonte, porque é casado e sua família está aqui, e pretende voltar para a sua cidade natal somente a passeio. Já João quer continuar morando na capital até terminar de pagar os estudos da filha que cursa Comunicação Social, na URPB. “Depois que eu formar todo mundo lá, dá pra voltar tranquilo”, argumenta.


Vídeo - Matheus Ferraz
Entrevista - Junia Ramos, Lucas Bastos  
Edição - Matheus Ferraz
Reportagem - Poliana Micheletti
Fotografia - Gleison Flávio, Matheus Ferraz, Willian Douglas
Editorial - Poliana Micheletti